Eras o ovinho menos aquecido,
menos atenção tinhas da tua mamã.
Agora nasceste – és tão pequenino! –
- e tens, por sustento, caroços de maçã.
Cresce passarinho, cresce;
muito tens p’ra crescer…
Come ao dia e, se anoitece,
nunca pares de comer.
Dos meus galhos eu, para ti, vou desprendendo
frutos secos e maduros.
Rói os carocinhos, com eles vais crescendo.
Teus irmãos já estão seguros.
Todos eles já têm força para voar;
como não vingasses, tua mamã desiste.
De ti se despedem, olhos a chorar.
Ficas, passarinho, sozinho e tão triste!
Chora, passarinho, chora;
deixa o coração penar.
Pões lamentos cá p’ra fora,
não lhes dês em ti lugar.
Essa solidão é uma dor que te sustenta
e te vai fortalecer.
Tens-me para ti! Serei mãe muito atenta
que não te irá prender.
É já grande o sonho que te faz crescido;
estes fracos ramos não servem para ti!
Tens, nas tuas asas, força de um destino
que sussurra à alma a ordem de partir.
Voa, passarinho, voa;
foste feito p’ra voar.
No teu coração ecoa
vontade de viajar.
Deixa, num dos galhos, a coisa que eu desejo:
uma pena tua, só.
Com as minhas folhas, do vento a protejo;
faço dela a minha voz.
Nesta macieira fica sempre em flor
pois foste voando, levando-me contigo.
Segue o teu caminho, de sonho e de dor,
que eu canto a saudade de um pássaro amigo.
Volta, passarinho, volta
se o tempo estival chegar;
procura no ar, à solta,
alguém para namorar.
Faz aqui teu ninho, no berço que te fiz
quando a vida te abraçou.
Vê que a flor já morre, a Sina assim o quis,
E o fruto cá chegou!
porque é uma história de amor
porque eu gosto de histórias de amor
e porque esta é a mais bela...
Tem uma ternura imensa depositada em cada palavra desse poema. Rendi-me, completamente.
ResponderEliminar«Voa, passarinho, voa;/foste feito p’ra voar/(...) Deixa, num dos galhos, a coisa que eu desejo:/uma pena tua, só».
Esta parte lembrou-me a célebre frase: "Cada ser humano é único interagindo com cada um de nós deixando-nos um pouco de si e levando um pouco de nós" (: