Até que ponto vale acreditar… na verdade, na mentira, no que simplesmente acreditamos, no que nos fazemos acreditar. Ah doce brandura dentro do peito, na certeza que nem mágoas nem espinhos nos ferem, por toda a incerteza que nos acalenta na esperança de que tudo bata certo. Porque tudo faz sentido quando me deleito nos teus braços com a segurança dos rochedos na tempestade. Mas sou inocente por essa crença… Sou uma inocente princesa nas costas de um cavalo branco, e quantos príncipes conheci neste reino onde eram sapos afinal… e tu, porque te pensas diferente, porque te dizes diferente, por que te acredito diferente? Porque é agradável, nem sempre prudente essa entrega, quando nela nos recostamos indolentemente, longe do fragor das assembleias numerosas. As horas então deslizam sobre nós, e caem em silêncio na eternidade, sem nos fazer sentir a sua triste passagem. Não sei porquê, só sei que sim, mas tenho também em mim, no âmago da cândida brancura que o sempre nunca é para sempre e que as rosas têm espinhos que se saciam com o sangue dos dedos e as lágrimas que com mestria e engano nos fazem pelas faces deslizar. Sei que sim e sei que foste para sempre, mas que para sempre não serás… Queria, quero, mas seria levar ao extremo a ingenuidade que me consome, que me toma e me liberta e me deixa à solta nesse teu mundo selvagem. Sou inteiramente contigo que de tal modo elevas os meus pensamentos que uma prova invencível da imortalidade entra com violência na minha alma e a ocupa inteira. Sou contigo imortal, mas presa por uma corrente de rosas eu espero… sento-me calma na luz das sombras, deleito-me na solidão que me afaga o corpo e mergulho em ti mar de emoções esperando, esperando que chegue o para sempre na certeza de que ele nunca chegará…
“Éramos felizes pelos nossos erros — e agora: Ah! Já não é nada disso! Fomos obrigados a ler, como os outros, no coração humano; e a verdade, caindo no meio de nós como uma bomba, destruiu para sempre o palácio encantado da ilusão.”